Na
primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na
segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até
que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E
já não podemos dizer nada.
Nos
dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os
humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No
silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã, diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho
ao redor e o que vejo
e acabo por repetir não mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
e acabo por repetir não mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A
mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas
eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar,
que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais
Vamos
ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos
que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E
por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas
dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,o coração grita
com a potência de um milhão de vozes,o coração grita
-
MENTIRA!
Eduardo Alves Costa.
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